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Sexo, mentiras e vídeo foi uma pedrada no charco no cinema da década de 80. Minimalismo e simplicidade: poucas personagens, informação essencial através dos diálogos, cenas calmas e nunca monótonas. Um filme novo e refrescante, a lembrar os vídeos caseiros, com o profissionalismo de um realizador criativo.
Como todos os filmes inovadores, marcou o cinema a partir daí, tecnicamente e culturalmente.
As personagens principais são, elas próprias, complexas e pouco comuns. Ambos sensíveis e vulneráveis, facilmente magoados pelas personagens comuns, ela pelo marido e pela irmã, ele pela ex-mulher. Cada um deles lida com a sua própria solidão retraindo-se, refugiando-se no seu mundo (a casa): ela em constantes limpezas, ele filmando entrevistas intimistas a mulheres.
A perspectiva da vida deste voyeur antecipa a perspetiva de gerações posteriores: tudo o que tem cabe no carro, possuir apenas o essencial, simplificar a vida ao máximo. É uma personagem, ela própria, vinda do futuro. :)
Para as personagens comuns o sexo implica mentiras e risco. É a aventura à custa dos outros, uma espécie de competição (a irmã), e o exibicionismo masculino (o marido).
Nas personagens comuns o exibicionismo - voyeurismo é físico. Nas personagens incomuns é psicológico, a intimidade física é sugerida, fantasiada, há um espaço-tempo, um intervalo, onde pairam antes de mergulhar, e para mergulhar precisam de confiar, de saber que não vão ser magoados.
Ela liberta-o da sua solidão e receio onde se esconde e, ao libertá-lo, liberta-se da sua própria solidão e receio.
A cena final é como um respirar calmo, como um chegar a casa, e a casa já não é dentro de casa, é cá fora, à entrada, à luz do dia, um e o outro. Dizer isto em linguagem do cinema é magnífico.
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